O COMPROMISSO E A RESPONSABILIDADE DE EDUCAR!!!

O COMPROMISSO E A RESPONSABILIDADE DE EDUCAR!!!

 

Ita­mar­garethe Cor­rêa Lima — jor­nal­ista, radi­al­ista, advo­ga­da, pós-grad­u­a­da em Dire­ito Trib­utário, Penal e Proces­so Penal, pós-grad­uan­da em Dire­ito Civ­il, Proces­so Civ­il e Docên­cia do Ensi­no Supe­ri­or.

Na sem­ana pas­sa­da, estive em um famoso restau­rante de São Luís. Ao entrar no local, duas mesas já estavam ocu­padas por famílias difer­entes. Ao final do salão, uma meni­na com idade aprox­i­ma­da de cin­co a seis anos, brin­can­do no celu­lar e total­mente alheia ao mun­do, senão o dela mes­ma, me chamou o inter­esse.

De lá, em alguns momen­tos espar­sos, observei o pai faz­er gestos com coraçãoz­in­ho nas mãos e man­dar bei­jos, enquan­to a peque­na per­mane­cia inerte. Nem mes­mo a inqui­etação da irmã menor, que aparenta­va ter um pouco menos de dois anos e que, em deter­mi­na­do momen­to, inclu­sive chegou a cair, foi capaz de arran­car um sin­ge­lo sor­riso ou um gesto afe­tu­oso daque­la meni­na.

Pas­sa­dos alguns instantes, a mãe se levan­tou indo ao encon­tro da fil­ha, não falou mais que três palavras, e diante da neg­a­ti­va ao con­vite de se sen­tar à mesa, retornou e se jun­tou aos demais par­entes. Todos os adul­tos, incluin­do os avós e pais, con­tin­u­avam a sor­rir, beber e brin­car como se aqui­lo fos­se algo nor­mal. Somente quan­do o pedi­do chegou e foi hora de almoçar, a peque­na se dirigiu para se unir aos ascen­dentes, todavia con­tin­u­ou sem inter­a­gir.

No encon­tro de hoje, toman­do como base essas cenas que são muito comuns na con­tem­po­ranei­dade, nos­sa abor­dagem terá como foco o con­ceito atu­al de família, a edu­cação dos fil­hos, o amor, respeito e os dados alar­mantes que atingem a sociedade brasileira quan­to ao chama­do mal do sécu­lo entre cri­anças, ado­les­centes e jovens: a depressão.

Primeiro é opor­tuno que sejam apre­sen­ta­dos dados estatís­ti­cos para que pos­samos ter con­sciên­cia de quão grande é o prob­le­ma. Segun­do o Con­sel­ho Fed­er­al de Med­i­c­i­na, os casos de suicí­dio aumen­taram 43% no Brasil em uma déca­da, pas­san­do de 9.454 em 2010 para 13.523 em 2019.

Entre os ado­les­centes, o aumen­to foi de 81%, indo de 3,5 suicí­dios por 100 mil para 6,4. Nos casos de menores de 14 anos, hou­ve um avanço de 113% na taxa de mor­tal­i­dade de 2010 a 2013, fazen­do do suicí­dio a quar­ta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Esse cresci­men­to se deu em todas as regiões do país, ten­do o Sul e o Cen­tro-Oeste reg­istra­do as maiores taxas.

Os espe­cial­is­tas afir­mam que a ati­tude tres­lou­ca­da de cei­far a própria vida é o ápice da con­du­ta ator­men­ta­da, entre­tan­to antes da tragé­dia sinais sem­pre são dados, porém pas­sam imper­cep­tíveis.

Pre­cisamos enten­der que o suicí­dio é um prob­le­ma de saúde públi­ca, e que cri­anças e ado­les­centes se sui­ci­dam cada vez mais, tor­nan­do-se comum, mes­mo com a pou­ca divul­gação, já que os veícu­los de comu­ni­cação ten­dem a não pub­lic­i­tar, exce­to no momen­to em que o fato atinge alguém influ­ente ou abas­ta­do. Os famil­iares e as pes­soas próx­i­mas devem obser­var mudanças de ati­tude para evi­tar o pior.

Aque­le que deixa de se rela­cionar com os ami­gos, pas­sa mais tem­po iso­la­do em casa, deve ser obser­va­do e até mes­mo encam­in­hado a um espe­cial­ista. É pre­ciso con­ver­sar. Deve­mos estar aten­tos aos sinais, e o modo de agir da nos­sa per­son­agem cita­da no iní­cio é um exem­p­lo clás­si­co.

No futuro não muito longín­quo, pelo com­por­ta­men­to apre­sen­ta­do, aque­la cri­ança é um ser que poderá ter um fim trági­co. É necessário que todos se envolvam na pre­venção do suicí­dio.

Os números mostram que, a cada dia, 38 pes­soas tiram a própria vida no Brasil, sendo que, para cada caso, há até 20 ten­ta­ti­vas frustradas, indi­ca a Orga­ni­za­ção Mundi­al de Saúde (OMS), que lançou o guia de pre­venção ao suicí­dio Live Life (Viva a Vida).

Den­tre as medi­das pro­postas pela OMS, desta­cam-se a restrição ao aces­so a armas de fogo e proibição dos pes­ti­ci­das mais perigosos, redução do taman­ho das embal­a­gens de medica­men­tos e insta­lação de bar­reiras em locais de risco con­heci­do de suicí­dio. Con­forme ante­ri­or­mente fal­a­do, a adoção de estraté­gias respon­sáveis de comu­ni­cação, evi­tan­do matérias que descrevam a ação para não levar à imi­tação, enfa­ti­zan­do histórias de recu­per­ação bem-suce­di­das, tam­bém con­stam no Live Life.

O guia ain­da ressalta a importân­cia de capac­i­tar os profis­sion­ais da saúde para iden­ti­ficar, avaliar e realizar o acom­pan­hamen­to pre­coce das pes­soas em risco. E ape­sar da com­plex­i­dade de sua deter­mi­nação, os téc­ni­cos defen­d­em que o suicí­dio pode ser evi­ta­do com inter­venções indi­vid­u­ais e cole­ti­vas de diag­nós­ti­co, atenção, trata­men­to e pre­venção a transtornos men­tais.

Por­tan­to, nos encon­tramos sim diante de um martírio de saúde cole­ti­va, o qual se tor­na mais volu­moso ao atin­gir­mos o apogeu do nos­so egoís­mo, falam­os que a der­ro­ta famil­iar desse ou daque­le não impor­ta, ledo engano, meu caro. Vai inter­es­sar a todos nós, pois assim que aque­le out­rem tiv­er per­ver­tido, venden­do dro­ga, ofer­e­cen­do bebi­da ao nos­so fil­ho, nesse exa­to momen­to, o tor­men­to deixa de ser daque­la e fará parte da nos­sa família, daí a asserti­va de que isso é um prob­le­ma cole­ti­vo.

Assim sendo, diz­er que aque­le que se mata lá fora para mim é indifer­ente não é, pois assim será até a viz­in­hança, quan­do aden­trar na min­ha casa o dis­cur­so muda sub­stan­cial­mente, e o que ter­e­mos serão ape­nas os dados estatís­ti­cos.

Então a ausên­cia do amor fra­ter­nal com o out­rem é o que vem nos fazen­do reféns das nos­sas próprias maze­las morais, e nova­mente ire­mos pre­cis­ar enfrentar aque­las duas palavrin­has que insis­tem a nos ator­men­tar, digo, esta­mos dom­i­na­dos pelo orgul­ho e egoís­mo.

Ultra­pas­sa­da a eta­pa dos números, extrema­mente necessária para que ten­hamos con­sciên­cia de quão grande é o nos­so com­pro­mis­so e respon­s­abil­i­dade con­feri­da pelo Cri­ador, vamos abor­dar a difí­cil mis­são de edu­car. E diante dos dados aci­ma, a per­gun­ta que insiste em não calar: onde esta­mos erran­do? Os dis­túr­bios com­por­ta­men­tais e men­tais são genéti­cos? A cri­ação pode ser con­sid­er­a­da fator deter­mi­nante para evi­tar ou ali­men­tar uma tragé­dia den­tro das nos­sas famílias?

A bem da ver­dade é que não exis­tem fór­mu­las mág­i­cas na edu­cação das cri­anças. Este é um proces­so con­tín­uo que depende, aci­ma de tudo, do con­hec­i­men­to e das exper­iên­cias dos pais, pelo que não deve­mos con­sid­er­ar cor­re­ta ou não uma deter­mi­na­da for­ma de edu­car. No entan­to, há fun­da­men­tos que devem ser trans­ver­sais às relações entre pais e fil­hos, como é o caso da capaci­dade de diz­er “não” à cri­ança.

Nos dias de hoje, é comum ver­mos cri­anças com um grande poder e influên­cia sobre os pais. E por quê? As respostas são sem­pre as mes­mas: receio de trau­mas psi­cológi­cos, per­da de amor, sen­ti­men­to de cul­pa pela fal­ta de tem­po de qual­i­dade pas­sa­do com a família, neces­si­dade extrema de agradar os fil­hos e evi­tar prob­le­mas que advêm por con­trari­arem a cri­ança (choro, bir­ras, zan­gas, etc).

Quan­do dize­mos não e impo­mos lim­ites esta­mos dizen­do, em out­ras palavras, que o respeito é a base para uma relação saudáv­el, não ape­nas den­tro de casa, e assim foi conosco e será com a nos­sa pro­le. Ao ado­tar­mos com­por­ta­men­to diver­so do aci­ma elen­ca­do, podemos estar dan­do origem a um ciclo de per­mis­são abu­si­va, con­tribuin­do para o desen­volvi­men­to de uma cri­ança tirana, que não respei­ta o out­ro e com uma baixa tol­erân­cia à frus­tração.

E como esse tema é extrema­mente inter­es­sante, obje­ti­van­do não tornar esse encon­tro cansati­vo e/ou estres­sante, esta sem­ana ter­mi­namos por aqui deixan­do uma per­gun­ta: “deve­mos amar nos­sos fil­hos sem lim­ites”. Respon­da! Sem­ana que vem con­tin­uare­mos a abor­dar esse assun­to. Até breve!!!”

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