Por Prof. Nonato Chocolate
A frase atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva — “um senador vale por três governadores” — carrega uma densa carga simbólica e política. Embora proferida em outro contexto, sua atualidade persiste, pois explicita uma lógica estratégica da ocupação de espaços no campo político. A indagação feita à época por jornalistas sobre a prioridade do Partido dos Trabalhadores (PT) — eleger senadores ou governadores — revela a hierarquia institucional e a centralidade do poder legislativo federal na estrutura do Estado brasileiro.
Antes de analisarmos a afirmação, cabe comentar um episódio emblemático ocorrido recentemente, que traduz de forma eloquente os deslocamentos simbólicos e a percepção social do poder. Em pleno Estádio Castelão, durante a final do campeonato maranhense, o governador Carlos Brandão foi alvo de uma vaia significativa. Não se tratava apenas de um gesto espontâneo de torcedores, mas de uma manifestação de desagrado social carregada de sentidos políticos.
A vaia — enquanto forma arcaica de censura pública que remonta à ágora grega — expressa mais que um descontentamento esportivo: ela explicita o julgamento público da conduta e das escolhas simbólicas de um agente político. Brandão, ao adentrar a arena trajando a camisa do time de Imperatriz, rival do Maranhão Atlético Clube (MAC), em um espaço frequentado majoritariamente por setores médios e detentores de maior capital cultural e econômico, fez uma escolha que foi lida como dissonante com o ethos local. Sua performance pública foi interpretada como uma deslegitimação simbólica perante aquele grupo social.
Nesse episódio, o que está em jogo é o capital simbólico que um agente político carrega ou perde diante de seu público. A decisão de disputar uma vaga ao Senado no próximo pleito não pode ser compreendida apenas como uma movimentação eleitoral, mas como uma tentativa de reconfigurar seu lugar dentro do campo político, acumulando mais poder simbólico e estrutural. O Senado representa, dentro da hierarquia republicana, um locus de poder com capacidade de articulação nacional e internacional — daí sua valorização estratégica.
A entourage política que cerca Brandão parece tensionada entre dois projetos distintos: a manutenção no poder executivo estadual — com suas limitações estruturais e dependência de alianças locais — ou a ascensão ao Senado, onde o capital político pode ser potencializado em esfera mais ampla, como demonstra a trajetória de Flávio Dino, que consolidou seu poder ao transitar do Executivo estadual ao Legislativo federal, e posteriormente ao Judiciário, hoje Ministro do STF.
Lula, ao declarar que um senador “vale por três governadores”, não apenas comunica uma preferência política, mas traduz uma visão sistêmica sobre os mecanismos de poder no Estado brasileiro. Além disso, sinaliza a intenção de manter a coalizão política que hoje sustenta o projeto nacional do PT, favorecendo uma transição pactuada no Maranhão, que inclui a continuidade de Felipe Camarão como figura de confiança partidária.
Como bem disse Luis Fernando Veríssimo, “o mundo é como um espelho que devolve em cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.” No campo político, esse espelho é coletivo, e suas manifestações — vaias, aplausos, votos ou abstenções — são expressões simbólicas da luta por reconhecimento, legitimidade e poder.
Prof. Nonato Chocolate, já concorreu aos cargos de Vereador, Deputado Federal ( e pré-candidato a Senador) é Petista histórico e um dos poucos com interlocução com Lideranças Nacionais do PT . Além de já ter ocupado alguns cargos de destaque na gestão pública, inclusive na gestão Brandão .
Sociólogo e Mestre em Educação