Entre o Senado e a sucessão, Brandão perde a corrida contra o tempo

Entre o Senado e a sucessão, Brandão perde a corrida contra o tempo

 

Por Sim­p­li­cio Araújo

Setem­bro cam­in­ha para o fim, e em novem­bro o orça­men­to estad­ual se encer­ra, só sendo reaber­to em março. Esse hia­to admin­is­tra­ti­vo não é ape­nas téc­ni­co: ele impõe sérias lim­i­tações políti­cas ao gov­er­nador Car­los Brandão e aos seus pro­je­tos eleitorais.

Segun­do a lóg­i­ca eleitoral brasileira, todo gov­er­nante pre­cisa chegar ao pleito com uma mar­ca con­sol­i­da­da — uma obra de grande impacto, um pro­gra­ma social de refer­ên­cia ou um dis­cur­so mobi­lizador. No caso de Brandão, esse ati­vo sim­ples­mente não existe.

Brandão tem até abril o dile­ma para decidir se deixa o car­go para dis­putar o Sena­do ou se per­manece no Palá­cio dos Leões para ten­tar faz­er do sobrin­ho o can­dida­to da máquina em 2026.

É uma encruzil­ha­da cru­el. Para o sobrin­ho, o tem­po é cur­to demais para se tornar con­heci­do e com­pet­i­ti­vo. Para o próprio Brandão, é ain­da mais cur­to para tomar uma decisão estratég­i­ca sem arriscar perder tudo.

A lei eleitoral não per­doa: se per­manecer no gov­er­no, o sobrin­ho ficará impe­di­do, a par­tir de abril, de uti­lizar a estru­tu­ra ofi­cial que hoje lhe serve de vit­rine — aviões, cer­imô­nias, segu­ranças, a litur­gia da pre­sença em even­tos públi­cos. Sem ess­es instru­men­tos, a força sim­bóli­ca da can­di­datu­ra cai dras­ti­ca­mente.

A políti­ca exige nar­ra­ti­va. Flávio Dino tin­ha o “Esco­la Digna” e o “IEMA”, por exem­p­lo, como sím­bo­los. Roseana Sar­ney tin­ha cul­tura e estradas. Brandão, até aqui, não con­segue exibir um feito equiv­a­lente.

Asfal­tos pon­tu­ais — que seri­am obri­gação das prefeituras —, a con­tin­u­ação da Litorânea, obra fed­er­al; a estra­da São Luís Gonzaga–Trizidela do Vale, lança­da por Dino; e a “Trans­Brandão”, em Col­i­nas, são insu­fi­cientes para cri­ar memória cole­ti­va. Gov­er­nos sem mar­cas viram notas de rodapé na história políti­ca — tese recor­rente nos estu­dos sobre sucessão e per­manên­cia no poder.

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Brandão já cole­ciona deslizes den­tro e fora do gov­er­no. Ao ten­tar pro­je­tar o sobrin­ho como suces­sor, terá de equi­li­brar o fio da naval­ha entre pro­pa­gan­da e ile­gal­i­dade eleitoral. A história mostra que, em momen­tos assim, a lei da inér­cia políti­ca pesa con­tra: quem não con­strói um lega­do em tem­po hábil perde tração.

Nesse tab­uleiro, o tem­po é ali­a­do de Felipe Camarão, que tem o nome asso­ci­a­do a Lula e ao eleitora­do pro­gres­sista, e prin­ci­pal­mente de Eduar­do Braide, que fala a setores urbanos cansa­dos da máquina estad­ual. Para Brandão, o tem­po corre em sen­ti­do con­trário: quan­to mais o reló­gio avança, mais escor­re­ga­dia se tor­na a ladeira de seus planos políti­cos.

Em resumo, o gov­er­no Brandão acabou porque não há mais tem­po para lançar e con­cluir grandes obras ou ações. A par­tir de abril, tudo será eleição. O úni­co grande pro­je­to ain­da ao seu alcance seria a reunifi­cação da base políti­ca que elegeu Dino. Mas esse cam­in­ho parece rejeita­do muito mais pelos que cer­cam Brandão do que por ele mes­mo. E a políti­ca, como ensi­nam os clás­si­cos, não per­doa o vácuo de lid­er­ança.

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