Uma ação popular ajuizada pelo deputado estadual Rodrigo Lago (PCdoB) caiu como uma bomba no Palácio dos Leões ao colocar o governo Carlos Brandão no centro de uma grave suspeita de corrupção envolvendo recursos da educação. O processo aponta possíveis desvios milionários na construção de uma escola estadual de 12 salas no bairro do Angelim, em São Luís, obra que, apesar dos valores elevados já pagos, praticamente não existe no mundo real.
A denúncia foi analisada durante o plantão judicial pelo juiz federal Deomar Arouche Júnior, que, mesmo sem apreciar os pedidos liminares naquele momento, foi claro ao reconhecer a gravidade dos fatos narrados. Na decisão, o magistrado destacou a presença de indícios relevantes de irregularidades desde a licitação até a execução dos contratos, afastando qualquer tentativa de minimizar o caso como simples falha administrativa.
Segundo a ação, a Secretaria de Estado da Infraestrutura (SINFRA) teria ignorado parâmetros oficiais de preços, como SINAPI e SICRO, optando por cotações privadas sob o discurso de “tecnologia modular inovadora”. A escolha provocou conflito interno na própria secretaria, com pareceres técnicos e jurídicos divergentes, levantando fortes suspeitas de direcionamento licitatório e montagem do processo.
Os números descritos no processo são estarrecedores. Dois contratos ligados à mesma obra somam R$ 54,9 milhões, com mais de R$ 27 milhões já atestados para pagamento. No entanto, no local onde deveria funcionar a escola, há apenas desmatamento e terraplanagem, cenário incompatível com os serviços que teriam sido pagos, segundo medições oficiais.
O foco mais sensível da denúncia recai sobre a empresa ARGOS Engenharia e Empreendimentos Ltda., contratada por meio de um contrato “guarda-chuva” da SINFRA. A ação sustenta que cerca de R$ 11,9 milhões, provenientes do precatório do FUNDEF, foram empenhados ou pagos à empresa por serviços inexistentes ou duplicados, o que levanta suspeita direta de desvio de recursos federais destinados à educação.
A gravidade do caso aumenta porque o FUNDEF possui destinação constitucional específica para a manutenção e desenvolvimento do ensino. O uso desse dinheiro em pagamentos supostamente fictícios, segundo a ação, caracteriza desvio de finalidade, dano ao erário e possível esquema de corrupção dentro da estrutura do governo estadual.
A Argos ainda aparece no processo cercada por fatos recentes que acendem o alerta. Em dezembro, sócios da empresa foram flagrados pela Polícia Federal sacando R$ 1 milhão em espécie, episódio citado na ação como elemento que reforça a necessidade de investigação aprofundada sobre a relação da construtora com contratos milionários firmados pelo governo Brandão, veja a ação popular AQUI
Além da Argos, a empresa TAEC Módulos Ltda., de São Paulo, também é alvo da ação. A construtora já teria recebido mais de R$ 15 milhões com recursos do FUNDEB por módulos supostamente fabricados, mas sem comprovação de que pertencem à escola do Angelim, além da inexistência da quadra poliesportiva que já constaria como majoritariamente executada nas medições.
Entre os réus estão o governador Carlos Brandão, o secretário de Infraestrutura Aparício Bandeira Filho, servidores da SINFRA, as empresas contratadas e instituições financeiras públicas. Com o fim do recesso, a Justiça Federal volta a analisar pedidos de bloqueio de bens e suspensão de pagamentos, em um processo que ameaça escancarar um dos mais explosivos escândalos envolvendo dinheiro da educação e obras públicas no Maranhão recente.
Em tempo : vem bomba aí …
