Já se passaram 22 dias desde a passagem do presidente Lula por Imperatriz, quando ele afirmou que receberia o governador Carlos Brandão na semana seguinte para discutir a crise política no Maranhão. Mas o encontro nunca aconteceu. A obsessão de Marcus Brandão pelo poder parece ter rompido os últimos fios que ainda sustentavam o grupo vitorioso nas eleições de 2022. O castelo político erguido à base de promessas, alianças frágeis e interesses familiares começa a ruir diante do silêncio do Planalto.
Visivelmente incomodado com a possibilidade de reunificação do grupo por intermédio do presidente , o que poderia enfraquecer seu plano de manter o poder por mais oito anos através do filho , Marcus Brandão decidiu ressuscitar áudios gravados clandestinamente. A tentativa era constranger figuras como o ministro Flávio Dino, o desembargador Ney Bello e os deputados Márcio Jerry e Rubens Jr. O plano parecia genial, mas o efeito foi desastroso: o suposto escândalo só ecoou nos corredores da mídia bolsonarista, conduzido pelo recém-convertido e porta-voz do grupo Brandão , Yglésio Moisés, que vociferou alto, mas entregou pouco.
O resultado foi o oposto do esperado. A cúpula nacional do PT ficou irritada, o Palácio do Planalto esfriou o diálogo e Brandão ficou isolado. A tentativa de criar uma narrativa de perseguição se desmancha diante de um governo estadual marcado por nepotismo, suspeitas de corrupção, estradas esburacadas, escolas abandonadas e um colapso na segurança pública. O Maranhão parece sangrar nas mãos de quem prometeu transformá-lo.
Lula, que já desconfiava do governador por não cumprir compromissos selados em um jantar com Gleisi Hoffmann, Dilma Rousseff e Flávio Dino, agora vê em Brandão um problema político e moral. O presidente se retraiu, evitando gestos públicos e agendas conjuntas. Resta ao governador escolher o próprio destino: tentar a improvável façanha de eleger o sobrinho à revelia do presidente e do povo maranhense ou recuar, aceitando o papel de coadjuvante em um jogo que já não controla. Mas, para isso, dependerá de algo raro: o aval de Marcus Brandão e a humildade de quem perdeu o rumo do poder.
